terça-feira, 18 de setembro de 2012

Bicicletas - entrevista velha

Foi para um jornal de Barueri, achei o arquivo hoje enquanto procurava outras coisas. Não peguei link nem nada, mas segue aí o original :o) (as respostas que mandei por email)


Há no Brasil uma regulamentação que normatize o uso de bicicletas no trânsito?
Sim - é o Código Brasileiro de Trânsito, que dispõe sobre o tráfego de bicicletas tanto quanto sobre os outros veículos! Pode precisar de aperfeiçoamentos aqui e ali, mas elas já existem na lei.

Há um treinamento para que ciclistas sejam orientados sobre qual a melhor maneira de conduzir suas bikes no trânsito de SP e vice-versa, para os motoristas iniciantes aprenderem a conviver com os ciclistas? Caso não haja, você defende que exista um planejamento para que ele seja implementado?
Quando há treinamento, é por iniciativas de indivíduos, ONGs ou de um ou outro órgão da administração pública. A cidade de Sorocaba, por exemplo, além de melhorar muito o sistema viário, também desenvolveu um programa educativo e cultural ligado às bicicletas. Mas esse treino, ou educação, não deveria depender da iniciativa de quem quer que seja - devia ser parte obrigatória da formação de motoristas quanto tiram  carteira de habilitação. De todo modo, como ciclista não tira carta, TODOS tem de ser orientados permanentemente, com informações objetivas (onde o ciclista deve circular, qual distância os motoristas devem respeitar) e principalmente com a promoção de valores até que respeito se torne uma cultura!

Você acredita que o trânsito de São Paulo, com o número de acidentes que registra e o motorista daqui, com seu comportamento muito direcionado para o estresse da cidade grande, estão preparados para receber uma nova demanda de usuários: os ciclistas?
"Preparado" talvez não esteja, mas isso não deve servir como impedimento para não melhorar as condições para os ciclistas. Centenas de milhares de pessoas já usam a bicicleta diariamente para se locomover - e não só tem direito a isso como acabam trazendo benefício para a sociedade como um todo. Então o poder público tem de melhorar as condições para quem já circula e assim estimulará outras pessoas a trocar seu carro pela bicicleta em trajetos curtos e a integrar a bicicleta com outros modais de transporte. E os motoristas podem acreditar: quanto mais ciclistas e menos carros, melhor será para eles também.

Qual o papel do poder público na implementação de infraestrutura para a diminuição de acidentes graves ou até fatais envolvendo ciclistas e motoristas?  
A infraestrutura - ciclofaixas, ciclovias, rotas sinalizadas, bicicletários, paraciclos - depende quase que totalmente do poder público, afinal ele é responsável pelas obras viárias. Algumas coisas podem ser feitas em parceria ou mesmo pela iniciativa privada, como a implantação dos pontos de estacionamento. Mas a educação é responsabilidade de TODOS, e, mais do que a infraestrutura, ela fará a diferença. E o poder público tem papel especial nisso, não tenho dúvida - promovendo eventos, campanhas educativas (na mídia principalmente), dando a oportunidade para as pessoas pedalarem em condições seguras.

Qual sua opinião sobre o acidente que vitimou fatalmente no dia 2 de março a ciclista Juliana Dias, na avenida Paulista. Considerando-se as  limitações de São Paulo, tanto em termos de infraestrutura como de falta de orientação e conscientização de motoristas e ciclistas, qual a melhor maneira de evitarmos que incidentes assim se repitam?
Realmente, o acidente foi causado por três coisas: falta de infraestrutura, falta de informação e falta de educação. Se houvesse uma ciclovia ou ciclofaixa, Juliana estaria mais segura. Se os motoristas soubessem realmente que o ciclista tem o direito de circular pela faixa e que eles são obrigados a respeitar a distância de 1,5m da bicicleta, ela também estaria mais segura (tem motorista que nem SABE disso e grita com o ciclista para que ele vá para a calçada). E PRINCIPALMENTE, se as pessoas não se comportassem de maneira tão irresponsável, agressiva e até mesmo violenta no trânsito; se se acostumassem a enxergar todos à sua volta como seres vivos dignos de cuidado e respeito e não obstáculos a sua pressa, Juliana estaria pedalando, trabalhando, vivendo. Então a melhor maneira é, enquanto não há infraestrutura adequada, INFORMAR os motoristas, ORIENTAR os ciclistas (sobre a melhor rota para evitar as avenidas mais carregadas, por exemplo) e educar, educar, educar. Para o respeito, a atenção, a responsabilidade.

O que você acha do marketing político levantado em torno de questões que envolvem sustentabilidade ou mesmo mobilidade urbana, mas que se provam  pouco eficientes na prática, sendo muitas vezes aplicado em regime “de fachada” e sem levar em conta as reais necessidades para que se tornem políticas permanentes?
Ele só se sustenta quando tem quem acredite... Quem "compre" slogans, frases feitas, "maquiagem", sem analisar se a proposta é viável ("Vou fazer 43km de metrô em 4 anos" - mentira, não vai, é impossível), sem verificar a coerência do candidato, sem cobrar depois para que as coisas aconteçam. Se as pessoas fossem mais atentas, críticas e participantes, o marketing mentiroso não ia dar em nada.

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