Maconha - não, eu não vou liberar

Vamos lá, perguntas mais frequentes:

1) "Você vai liberar a maconha?"
Não.
Pra começar, não sou a favor de "liberar", e sim "legalizar".

2) "Qual é a diferença de liberar e legalizar?"
"Liberar" seria deixar as pessoas fazerem o que bem entenderem. "Legalizar" significa trazer para o mundo da nossa Legislação - e as leis tem obrigações, restrições e proibições.

3) "Então você vai legalizar?"
A prefeitura não tem nenhum poder para modificar a legislação, porque a lei sobre drogas é federal, isto é, vale para o Brasil todo. É como a discussão sobre pena de morte, legalização dos Bingos ou do Jogo do Bicho, maioridade penal... A gente pode argumentar, dar palpite, mas nenhuma cidade ou estado pode fazer diferente.

4) "Se a prefeita não pode legalizar, a Dilma pode?"
Não, porque para mudar uma Lei ela tem de ser aprovada no Congresso Nacional (Câmara Federal e Senado). Não depende da vontade de uma pessoa

5) "E por que você é a favor de legalizar?"
Hoje, quem controla todo o comércio de maconha é o crime organizado. Eles tem o monopólio da venda. TODO o dinheiro obtido com a venda de maconha vai para a bandidagem. Com o dinheiro (muito dinheiro!), eles comprar armas, corrompem autoridades, seduzem os jovens da vizinhança com promessas de sucesso rápido e uma vida emocionante.
Maconha nunca vai deixar de existir - é completamente ilusório acreditar nisso. Bilhões já foram gastos em meio século de tentativas e ela continua aí, dando dinheiro para os bandidos e provocando mil tiroteios entre eles mesmos (para disputar ponto de venda, cobrar dívidas etc) e com os policiais.
Maconha pode fazer mal à Saúde - garganta, pulmão, memória, capacidade de concentração. Mesmo assim, acho melhor que ela seja vendida por pessoas HONESTAS. Com as NOSSAS regras, não as do PCC.

6) "Como seria?"
Usando o cigarro como exemplo (que eu detesto; sou antitabagista, mas acho é bom que a Souza Cruz venda e não o Comando Vermelho): o fabricante tem a OBRIGAÇÃO de colocar aquelas fotos no maço, mostrando as possíveis consequências (parece que não, mas ajuda a tirar o "charme" do negócio); é PROIBIDO fazer propaganda na TV e patrocinar eventos esportivos (parece coisa de doido, mas antes podia); é PROIBIDO vender para menores; fumar em locais públicos fechados também NÃO PODE.
O fabricante tem de ter CNPJ, passar por inspeção do Inmetro e da Vigilância Sanitária, contratar empregados com carteira assinada, pagar impostos.
Então, se é pra alguém ganhar dinheiro, que sejam comerciantes honestos.
Se é para as pessoas comprarem maconha, que não tenham contato com bandidos (e não deem dinheiro para eles!).

7) "Mas sempre vai ter o cara que não segue a lei".
Sempre.
Mas se você tiver a possibilidade de comprar em um lugar limpo e decente, vai MESMO querer se enfiar em uma quebrada e comprar do malandro mal encarado, ou de um adolescente seduzido pelo crime?
E fica muito mais fácil a polícia combater SÓ o desvio, em vez de ficar correndo atrás de maconheiro e, na prática, enxugando gelo.

8) "Me diz onde deu certo".
Vários lugares (Portugal, Argentina) tiraram a maconha da lista de substância que são "criminalizadas" - portanto só são encontradas no comércio ilegal - e estipularam regras. Por exemplo: o valor máximo que pode ter com uma pessoa (se tiver mais do que aquilo, ela é penalizada) e o lugar onde pode fumar (por exemplo: só em casa). Se for pego fumando na rua ou portando mais que o permitido (que não chega nem perto de um maço de cigarro, por exemplo), ela paga uma multa ou cumpre algum outro tipo de pena "alternativa". E vem funcionando; o consumo não aumentou, como temem alguns.
E em todos os lugares que adotaram a "Guerra (Armada, claro) às Drogas), NÃO deu certo. A violência é enorme, o consumo aumenta, os bandidos ficam mais poderosos e fazem mais estrago.

9) "E os "viciados"?"
A maconha não causa tanta dependência quanto cigarro e álcool - e já está sendo usada por aí, toda misturada com coisas horríveis, causando danos ainda piores à Saúde do que se os cigarros fossem fabricados em lugar decente. Os viciados, que são poucos, estão por aí - e precisam de tratamento desde já, não vão começar a precisar depois.

10) "Mas o consumo não aumenta?"
Não foi o que aconteceu nos lugares em que saiu das mãos do crime. Algumas pessoas talvez resolvam experimentar porque agora não precisam ir na "biqueira" comprar (e muitas vão achar muito sem graça, não tenham dúvida. Vão dizer "ué, não é muito diferente do efeito de duas taças de vinho"). Mas muitas outras vão perder o interesse porque deixou de ser proibido. Ou vão ter de esperar até fazer 18 anos...

11) "Maconha é a porta de entrada para outras drogas".
Não, o álcool é que é... Ele é legalizado e, mais do que isso, estimulado, cultuado, exaltado. A maconha é a porta de entrada para o contato com a bandidagem... E a abertura de uma porta para o mundo cruel.

12) "Você fuma?"
Já fumei. Parei há dez anos. Não queria nem pensar em dar dinheiro para os bandidos - e não podia negar que acabava indo para eles. Eu fumando na minha casa e os vendedores tocando o terror na quebrada... Não dá. Minha religião não admite que a gente cause mal, sabendo que está causando, e deixe pra lá. E fumar também não é nada bom para quem faz meditação, como eu faço.