terça-feira, 16 de outubro de 2012

Por que saí do PT? De novo, de novo e de novo

Capítulo 1 - "Seus meninos"

Pessoas trocam de partido. Várias vezes. A Dilma era do PDT. O Chalita foi PDT, PSDB, PSB e agora é PMDB. A Marina foi do PT e do PV. O Cristóvão Buarque foi do PT, agora é PDT. A Erundina foi do PT para o PSB. O Sarney era PDS, que "virou" PFL, hoje é PMDB. O Plinio era PT, hoje é PSOL. 

Algumas são questionadas sobre a troca de partido. Quem foi para o PSOL nunca hesitou em dizer: "Porque o PT traiu seus ideais". Existem casos assim. Mas a resposta em geral é mais, ahn, diplomática: "Eu não estava encontrando espaço". 

Meio vago, né? Mas razoavelmente bem aceito. 

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Eu respondi mil vezes por que saí do PT e responderei duas mil, se precisar. De um jeito mais resumido ou, um dia, em um livro. 

Narrei todas as minhas agruras, decepções, dissabores em tempo real no meu blog e site. Em entrevistas mil. Em auditórios, respondendo perguntas da plateia. Mas foram 3 anos de crise até que eu concluísse que o PT não era mais meu partido, então tem muita coisa espalhada por aí. Portanto, mesmo sendo repetitiva, lá vou eu falar mais um pouco sobre minha saída. 

Até porque sempre tem alguém que nunca leu, nunca ouviu. 

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Meu contato com o PT, desde que Lula foi candidato ao governo pela primeira vez, era de entusiasta, militante, defensora em tudo quanto é lugar onde eu estivesse. Pegava material no comitê, comprava boton, ia votar embrulhada na bandeira.
Quando resolvi ser candidata a vereadora,  achava muito estranho as pessoas perguntarem “por que o PT”? Porque é o meu partido! Como poderia ser candidata por outro?
Foi só quando assinei a ficha de filiação que comecei a conviver mais com “a máquina” do partido propriamente. E ter motivos de tristeza.
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Eu já tinha lá minhas reclamações do governo da Marta, claro. Nos primeiro anos, me dava raiva pegar tanto buraco na rua, ver tanto mato alto, pegar ônibus caindo as pedaços, conviver com os dramas na Saúde. Todos esses de hoje... Todos. Demora no agendamento e no atendimento, falta de materiais, falta de profissionais... Ficava louca da vida: “POR QUE NÃO RESOLVEM ISSO LOGO? Quanto tempo vai demorar para a Marta dar “aquele” trato na cidade, como eu tinha certeza que ela daria?”.
Havia duas razões que me faziam suportar: saber que o Pitta tinha deixado a cidade arruinada (era o que eu dizia para quem reclamava COMIGO do governo) e o ódio que eu tinha dos governos tucanos, estadual e federal. Ódio da política econômica que permitia que os banqueiros batessem recordes de lucro ano após ano, enquanto havia tantos miseráveis nas favelas e nas ruas. Ódio da porcaria de serviços do SUS, do fracasso na Educação - a culpa era deles, dos outros governos.
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A Marta me recebeu super bem quando anunciei a intenção de ser candidata. “Alguns vão te esnobar, porque você veio da televisão - como eu. Faz a tua campanha. Você não ganha nada se acotovelando em palanque. Eu ia em escola, fazia debate, eles achavam que não ia dar em nada, mas eu sabia quem era meu eleitor”.
Adorei a compreensão, concordei com os conselhos. Soube que o “comando da campanha”, por solicitação da Marta, teria alguém designado para me acompanhar diretamente e me ajudar. Legal! Como seria esse “me ajudar”? 

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Na primeira reunião com a pessoa que ia me ajudar, o primeiro espanto. “Me dá o nome de seis meninos seus pra trabalhar na Prodam”.
“Meus”?
“É, seis meninos que vão fazer campanha pra você”.
“Mas o que a Prodam tem a ver com isso? O que eles vão fazer na Prodam?”
A resposta foi tipo “Dã, eles vão fazer campanha pra você”.
Fiquei sem ação. Eu tinha gostado do cara, gostei de como ele veio reclamando das outras “malas” (candidatos chatos, “pesados”) que teve de carregar antes e como estava feliz em trabalhar comigo, outro tipo de candidata, outro tipo de campanha.
Ficou chato. “Não quero indicar seis pessoas para serem contratadas pela Prodam pra fazer campanha pra mim”. Eu tinha esperança de ter entendido errado.
“Não, eles vão trabalhar, mas como eles são “seus”, vão fazer campanha pra você”.
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Pode parecer bobagem, frescura, mas eu achei horrível a proposta. Desonesta. E o PT faria isso, o meu PT? Em vez de selecionar, entre todos os possíveis interessados, pessoas aptas a trabalhar nas unidades móveis da Prodam como monitores de inclusão digital, pegaria os “meus”, pra me ajudar na campanha?
Enfim, esse foi só o começo da minha relação mais próxima com o partido.
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Na minha relação mais próxima com o governo, também fui me desgostando.
Em 2003 fui curadora de um festival de música nas Subrpefeituras, promovido pela Coordenadoria da Juventude. Escolhi as bandas, intermediei a contratação delas pela Secretaria da Cultura. Foi super trabalhoso, tive de lidar com toda aquela burocracia básica e basicamente insuportável, mas a causa era nobre - levar apresentações grátis de bandas legais pra vários pontos da cidade.
Mas...
As Subprefeituras estavam, em geral, se lixando para o festival. Fazendo corpo mole, criando dificuldades. Era para eu ser só a curadora, mas acabei ouvindo “um monte” das bandas indicadas por mim. O cachê não era grande coisa, ok, isso estava combinado desde o começo, mas as mínimas condições não estavam sendo cumpridas. Ofereciam palcos que eram pouco mais que tablados, onde não caberia nem a bateria. O som era ruim, a iluminação era ridícula.
Havia uma queda-de-braço da Coordenadoria da Juventude x Secretaria da Cultura x Subprefeituras x Anhembi (que cederia os palcos) que eu não conseguia entender. De um lado, má vontade (Subprefeituras); de outro, impotência (o Anhembi não tinha bons palcos em quantidade suficiente, a Coordenadoria não tinha autoridade para determinar que fosse assim ou assado). Por trás disso tudo, eu precisava reconhecer, um planejamento mal feito, que contava com boa-vontade e não papeis bem distribuídos entre os órgãos envolvidos.
No fim, houve shows legais (o do Mundo Livre no Tendal da Lapa, lotado - quase morremos de calor e suportamos o som ruim porque a vibe era muito  boa) e outros... legais também, mas desperdiçados. O Eddie se apresentou em um daqueles palcos minúsculos em um estacionamento enorme na Casa Verde, com... CINCO pessoas assistindo. Eu, meu marido, amigos nossos e da banda. Em volta havia uns prédios, o pessoal deu uma olhada e só.
Frustrante.
Só que não parou aí.
Depois de correr com milhões de papéis para atender à burocracia da prefeitura, as bandas demoraram MESES para receber. Muito além do estipulado inicialmente.
Passei a maior vergonha. Era comigo que elas falavam, porque eu tinha feito o convite. Fizeram dívidas - com o motorista da Kombi que levou o equipamento, com o cara que alugou uma mesa de som porque a da prefeitura não serviria - e não recebiam o cachê.

Eu falava com a Coordenadoria da Juventude, que falava com o Secretário da Cultura, e nada. Eu falava de novo com a Coordenadoria, que falava diretamente com a prefeita, que dizia ter falado com a Secretaria da Cultura e mandado resolver logo esse problema e... nada. Foi horrível. As bandas dizendo “olha, eu gosto de você, te respeito, não quero sacanear, o convite foi legal, a iniciativa foi bacana, mas nós vamos para a imprensa”.
F*. Um dinheiro importante pra eles, um valor ridículo para a prefeitura. Eu não entendia como a prefeita podia se envolver pessoalmente e nada. Não estávamos pedindo um favor, queria só que fosse respeitado o compromisso assumido.
Mas pra mim aquilo era uma exceção no governo Marta - ou uma situação inevitável na administração pública, que "é complicada mesmo".
Depois, em retrospecto, fui vendo que não. Era uma zona mesmo :o(.

***
Continua no próximo capítulo.

Um comentário:

  1. Te acompanho desde a ESPN.
    Otimo vc tornar publico a realidade da politica brasileira.
    Obrigado!!!!

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