terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Painel comentado

(Da Folha de hoje)

Sonho meu
Azarão na disputa pela presidência da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG) redigiu documento que detalha uma das bandeiras de sua campanha: rever o pacto federativo para evitar submissão do Legislativo ao Executivo e ao Judiciário.


A "submissão do Legislativo ao Executivo" é  tão verdadeira quanto "leite com manga faz mal". Depois que eu fui vereadora e ouvi vários colegas meus dizendo isso com plena consciência de que não é verdade, apenas para dizerem-se "tolhidos" bla bla bla, entendi melhor ainda o quanto é o contrário. Em um sistema eleitoral que não garante que o governo eleito tenha maioria também no Legislativo, o Executivo tem de "fazer maioria". E aí, senhores, os Parlamentares eleitos de olho no charme feito pelo governo para conquistá-los faze gato e sapato do governo. Se o Executivo for bastante gentil, generoso e charmoso, consegue fácil o apoio da maioria e depois essa maioria conquistada é que f. a minoria... A oposição... Se não se vendessem/rendessem ao governo, o Legislativo, nas regras vigentes, já seria bem mais independente. Não vem não.

(A propósito: o meu antigo PT criticava HORRORES a edição de Medidas Provisórias - um mecanismo constitucional e legal para garantir a tramitação de matérias urgentes, mas que na prática era usado como modo de mandar na pauta da Câmara. Era e É. O governo Lula/Dilma legisla por Medida Provisória a respeito DE TUDO. "Urgência" #myass. Ou, em termos adequados às famílias, #umapinóia. São centenas e centenas de MPs enviadas ao Congresso. Ela entra em vigor imediatamente e, se não for apreciada em determinado tempo pelos Parlamentares, "tranca a pauta" de votações - isto é, não se vota mais nada até votar a MP.

O governo abusa e aí um Parlamentar pode dizer que é a tal da "submissão" do Legislativo ao Executivo. Nã-ni-na. Se a maioria, com toda a liberdade que lhes foi concedida quando conquistaram um mandato nas urnas, reprovasse a MP, o governo seria derrotado e pronto. A submissão é VOLUNTÁRIA, de caso pensado, negociada. Pobres de nós que não somos "da base").

(Ah sim, e pode-se recorrer ao Supremo para questionar a constitucionalidade dessa enxurrada de MPs que não atenderiam ao critério de urgência. Duvida dizerem que é "interferência" do Supremo no Legislativo e no Executivo? Agora o Supremo é o órgão máximo do Judiciário e querem que ele não julgue mais... Sensacional. Já discordei muitas vezes do Supremo; já disse que ele errou em algumas decisões e exorbitou em outras, praticamente exercendo o papel de legislador. Mas daí a enxergar nele o papel de conspirador contra as forças democráticas; daí ao presidente da Câmara dizer "não vou obedecer" vão algumas léguas).

Photoshop
O favorito
 [para a Presidência da Câmara] Henrique Alves (PMDB-RN) fala em valorizar a atividade parlamentar. Se eleito, promete campanha para melhorar a imagem da Câmara.

Blá blá blá melhorar a imagem blá. Perfeito o título, "Photoshop". Tem jeito melhor de melhorar a imagem do que melhorar a atuação? Bom, pensando bem, tem... Chama o João Santanna.

Upgrade
Sai no final do mês relatório de comissão das Minas e Energia sobre 42 subestações estratégicas. Iniciada após série de apagões em oito Estados, a varredura deve sugerir troca e modernização de equipamentos.


"Deve sugerir". É bem capaz. Assim, como se o Ministério das Minas e Energia não tivesse que ter visto isso antes, ordenado providências a tempo. Acompanhemos.


TIROTEIO
"Ao escolher FHC como guru eleitoral, o que Aécio fará se Dilma evitar o racionamento de energia elétrica? Oposição no escuro?"
DO DEPUTADO FEDERAL VICENTE CÂNDIDO (PT-SP), sobre o tucano ter optado pelo ex-presidente como precursor de sua candidatura ao Planalto em 2014.

Não entendi. Se Dilma evitar o racionamento, não haverá escuro. Sério, não vi qual é a graça da frase.


CONTRAPONTO
Existe amor no Senado
Eduardo Suplicy (PT-SP) ocupava a tribuna do Senado, em dezembro, para defender a inclusão da palavra "amor" antes do lema "Ordem e Progresso" na bandeira brasileira. Cristovam Buarque (PDT-DF) interveio:
--Se fôssemos fazer uma bandeira para o povo brasileiro, seria preciso tirar tudo o que está escrito, porque dez milhões não sabem ler. O que temos é um problema geométrico: não cabe mais uma palavra naquele espaço!
Suplicy defendeu, encerrando sua fala:
--Quando houver amor de todos nós ao povo brasileiro certamente não haverá mais analfabetos no Brasil...

Ai meu deus. Se a gente prestasse mais atenção nas coisas todas que são ditas nas tribunas das Casas Parlamentares, ia ter assunto para enciclopédias de Contrapontos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Talvez eu responda seu comentário com outro comentário... Melhor passar por aqui de vez em quando para ver se tem novidades para você.