Pergunta infalível naquela semana de Março: "Você sofre ou já sofreu preconceito na política por ser mulher"?
Depende.
Se a mulher estiver a favor, tudo bem.
Se estiver contra, aí eles abrem a caixa de ferramenta.
Acontece também com os opositores/adversários/inimigos, mas contra mulheres o repertório é maior. Pode ser perua ou baranga; puta ou mal comida; nervosinha ou assanhada. Eles babam, arreganham os dentes, deixam escapar aquele seu eu-interior-profundo. Coisa fina.
Nunca vi alguém chamar homem de "barango" ou coisa parecida (qual seria o equivalente masculino? E para perua?). Claro que pode ser viado, corno, mas isso é dito mais como gozação, até entre amigos, do que com ódio e desprezo.
Na hora da raiva, sobra pra mãe mesmo. (É, já me escapou um palavrão, vocês sabem).
No futebol é parecido: tá tudo (mais ou menos) bem até você "ofender" o time do caro espectador. Aí vem: "Só podia ser mulher/ vai lavar roupa/ tá dando pra quem pra estar aí?".
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No Twitter, pode-se imaginar, já li todo tipo de coisas nojentas. Duas se destacam: a de ontem ("Coitada da @soninhafrancine, não tem mais vagina pra arrumar emprego no governo. Tá velhinha, carcomida de maconha. Nem KY resolve" - se não foi exatamente foi bem parecido, não vou me dar ao trabalho de procurar o original) e a da Barbara Gancia durante a campanha eleitora. Recapitulando: o perfil do PPS-Sampa, inconformado com o tratamento ultra amigável dado ao Haddad na Sabatinha Folha-UOL, depois da recepção hostil ao nível da grosseria dispensada aos seus adversários, disse que os jornalistas tinham "lambido as botas" do candidato. Linguagem pesada sim, mas com DNA político: nasceu em referência às botas dos militares. Gancia respondeu: "E a sua candidata, que lambe as partes de outro candidato"?
Nojo.
Uma jornalista. Que participava da cobertura da campanha. Não um fanático da seita adversária, um inimigo declarado, desafeto histórico ou recente.
Absurdo. Mas... Quando eu disse que o Haddad tinha sido um f-d-p no debate, o mundo desabou. "Não tem preparo para estar na política!". Tá, tá, tá.
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Não vou eu esquecer de outras vítimas recentes do massacre verbal dos governistas. Em 2010, apagaram as barbaridades que tinham falado sobre a Marina dos blogs amigos (do Lula/da Dilma) para não ficar tão feio pedir seu apoio no segundo turno.
Do Joaquim Barbosa, santo deus, falaram o que a torcida da Lazio não diz na arquibancada sem ser punida e condenada pela opinião pública internacional. Tem uma coletânea aqui.
E do Plinio, quando disse que o Haddad não podia ganhar porque essa seria a vitória dos mensaleiros ou coisa parecida? Recolhi alguns qualificativos dirigidos a ele: gagá,
safado, pirou, múmia, vomita rancoroso veneno, caduco, despirocou, comeu bosta. Disseram que estava "abraçado com o Vampirão" e "atracado com a direita". Bom, Vampirão, Nosferatu foram termos frequentemente usados também por governistas e JORNALISTAS isentos nas redes sociais. Chique.
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Quando FH era presidente, éramos tão desbocados, insolentes... Malcriados. Desrespeitosos. Sacanas. Implicantes. Pentelhos. Ácidos, provocadores, debochados, implacáveis. Nas charges, na Caros Amigos, na Bundas.
Aí podia.
O Lula podia dizer que o Collor tinha uma espécie de debilidade mental. FH podia aparecer na capa da revista vestido de baiana porque o ACM era da sua base. Eram "300 picaretas" na Câmara Federal. "Fora FH!", "Impeachmente já"!. Podia. Porque a oposição era indignada, furiosa, impaciente, inconformada.
Agora é golpe. Criticar, denunciar, ironizar, xingar, debochar. Golpe!! Fazer oposição!
Um dia ainda será sacrilégio. Alguém vai fazer uma charge com Lula e haverá atentados a bomba nas redações.
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Deus nos livre.
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