quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Se lá tem jeito, aqui também tem

Destaques, pra mim, da apresentação da Secretária de Transportes de Nova York, Janette Sadik-Khan, na Câmara Municipal:

1) Implantar mudanças em "Real Time" - interferências simples com resultado que vão transformando a cultura de mobilidade e demonstrando concretamente como pode vir a ser na cidade toda.

Dá pra fazer isso com pouco dinheiro e pouco material (até com tinta, floreiras, mobiliário simples).

2) Essas intervenções são feitas de maneira provisória dentro de um PLANO de médio e longo prazo. Metas, etapas, custos, atores. (Aqui se chama qualquer promessa/ lista de boas intenções/ ajuntamento de desejos de "plano").

3) Ela teve de enfrentar muita má-vontade, críticas, campanhas contrarias. O prefeito bancou.

4) Tudo é feito com acompanhamento permanente e levantamento de números de todos os tipos, comparando honestamente os resultados para saber se estão no caminho certo ou não (e não usando os mais bacanas, ligeiramente modificados para melhor, para fazer propaganda).

Alguns desses números mostram, por exemplo, que o numero de usuários e a extensão das viagens de bicicleta aumentou MUITO, mas o numero de acidentes não. Praticamente não se alterou.

O movimento no comercio aumentou MUITO nos locais em que passou a haver mais bicicletas e pedestres.

5) Quando o Bloomberg anunciou o plano de mobilidade com bicicleta, designou uma fatia de orçamento para isso

6) Pedestres não precisam só de calçadas melhores e travessias mais seguram (e precisam MUITO), mas também de SINALIZAÇÃO (defendo tanto isso... Imagina na Copa!). A cidade agora tem totens com mapas de localização para tudo quanto é lado. E as pessoas não precisam só de lugar para andar, mas também para FICAR (isso! Isso!). Então ela encheu a cidade de bancos e, em alguns lugares, de "praças pop-up", construídas rápida e temporariamente em fins-de-semana, por exemplo, com mesas, cadeiras e guarda-sóis.

7) Foi necessário reduzir a velocidade em muitas vias para aumentar a segurança. Se os motoristas amam isso tudo? No final (bem no final) das contas, da certo e todo mundo aprova, mas no começo eles querem esganar a Secretaria. Mas no começo a prefeitura tem de fazer um esforço enorme, criativo e consistente para sinalizar, explicar, convencer e acostumar as pessoas à novidade.

Eis aí a síntese da apresentação... O que me fascina é que ela não é uma urbanista sonhadora sem nenhum compromisso com a exequibilidade - ela FAZ. Não é uma funcionaria pública que usa as dificuldades o tempo todo para justificar seus fracassos - ela ENFRENTA as dificuldades. Ela não chega baixando decreto mas também não passa anos "debatendo democraticamente". E ela não está em uma cidade pequena em um país que não liga muito pra carro. Ela está em NY, USA. E FAZ. Se precisar, vai pessoalmente ao mercado comprar cadeiras de praia para a primeira intervenção na Times Square (ela fez isso - pensa que burocracia só tem aqui?)

Amo. Se lá tem jeito, aqui também tem.

Um comentário:

  1. “...O que me fascina é que ela não é uma urbanista sonhadora sem nenhum compromisso com a exequibilidade - ela FAZ.”
    Fala Soninha blz...mais uma frase e questão muito interessante, a descrição de fascínio sobre algo que é fácil de compreender e executar mas que se mostra tão distante de se concretizar é magnifica, porque isso contradiz todo avanço presenciado e desenvolvido ao longo da historia. Faz com que indaguemos sobre como que com todo avanço tecnológico, na área da saúde etc. uma questão como essa pode ser negligenciada perpetuamente?
    Por mais que se diga que é difícil, eu discordo, com uma boa analise de negocio, compreensão da problemática da questão, gerencia de projeto e principalmente vontade de fazer tudo se realiza. Fica ai um pedido, se você conseguir detalhar mais esse case será muito legal, pois conseguiremos extrair uma grande carga de Valor Agregado sobre essa experiência e o melhor disso tudo é ver em mais detalhes tudo que dá para fazer também.
    Valew
    Abs
    Felipe Ribeiro

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