quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Minhocão parte 2

(Começou no post abaixo)

Capítulo 4

Chegando ao CAPS pouco antes do meio-dia, ficamos sabendo que o turno da manhã já tinha terminado e a triagem só aconteceria as 15h, "depois do intervalo de almoço". Reclamei: "Intervalão, hein"? "É que também tem troca de turno".
Ok, ok.

Resolvemos esperar, claro. Os dois com a ansiedade sob controle, totalmente decididos. Mas visivelmente decepcionados quando entenderam que a triagem não era um procedimento imediatamente anterior à internação. Foram de mala e cuia pra lá crentes que ficariam internados. Nós (eu e minha amiga que está acompanhando os dois ainda mais de perto) os tranquilizamos: "Nós não vamos largar de vocês enquanto não estiverem encaminhados de algum jeito".

Às três horas - depois da Maria Paula pagar um almoço para eles - passaram, um de cada vez, por uma longa entrevista. O passo seguinte seria um exame clínico dali a dois dias às sete da manhã. O que trazia muita esperança a um deles, principalmente, era saber que o tratamento incluía remédios. Ele anseia por remédios para ajudar a aguentar a abstinencia.

Capítulo 5

Um dos dois (digamos, "Claudio") lembrou que conhecia um Pastor Silvio que tinha projeto para dependentes de drogas onde eles poderiam se internar imediatamente. Lembrou o nome da instituição, com o Google conseguimos endereço e telefone. Poderíamos ir São Miguel Paulista para "dar entrada" e de lá eles iriam para a chácara onde é feito o tratamento. O método é basicamente oração, trabalho e apoio mútuo.

Foi fácil de achar e fomos super bem recebidos. Depois de ter passado o dia todo com eles, no entanto, não poderíamos acompanhá-los até a chácara em Guarulhos. Deixamos nossos números de telefone - a Irmã que fez a acolhida seria nosso contato para saber deles e para que eles mandassem notícias. A primeira visita só poderia acontecer dali a 15 dias.

O "Alberto" ficou relutante. Sabendo da rotina de trabalho, orações e vigília, criou coragem para perguntar: "E remédio? Não tem remédio"? Desde o início, a promessa de remédio do CAPS o tinha animado. "Vocês vão passar por um médico, farão todos os exames e usarão toda a medicação que ele indicar e terão acompanhamento periódico com ele e um psicólogo. Vou agendar o médico para amanhã de manhã, para vocês ficarem mais tranquilos".

Alberto pediu celular emprestado para ligar para a mulher. Encabulado, ficou um bom tempo falando com ela, explicando onde ficaria, como seria feito o contato com família e amigos, quando ela poderia visitá-lo. Fiquei com a impressão de que ela estava meio brava - cética, vai ver; no mínimo desconfiada - e que ele, ficou inseguro.

Fizemos uma contribuição - não poderia pagar o valor completo (que é mesmo "para quem pode"), mas deixei R$200 para cobrir as despesas mínimas de estadia de cada um. Eles entraram no carro de um pastor (peruano muito gentil, ele mesmo ex-usuário, assim como a Irmã) e fomos embora também.

Capítulo 6

No trânsito das 6 da tarde, comentávamos o dia. Ânimo, desalento, preocupação, esperança, confiança, receio... Em algumas horas, passamos - os 4 - por isso tudo. Mas, incrivelmente, tinha dado certo no final. Era a primeira vez que ela se envolvia de maneira tão próxima com moradores de rua e usuários de crack e estava impactada pela experiência, a paciencia, persistência e disponibilidade necessárias, as idas e vindas. Não víamos a hora de visitá-los.

Avisei: "A gente tem de ficar preparado para dar tudo errado... Para daqui a uma semana eles estarem na rua de novo".

Capítulo 7

50 minutos depois, a Irmã ligou no meu celular: "Eles não quiseram ficar. Não se sentiram bem acolhidos. Rasgo seu cheque"?

Sim, por favor...

[Continua e continua e continua...]

Um comentário:

  1. Intrigada para saber... o que será que aconteceu no carro (ou na acolhida) que os fez desistir de ficar?

    Chegaram a conversar a respeito disso?

    Será que a proposta do pastor não era séria? Ou a proximidade com a religião deixou os dois desconfortáveis?

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