segunda-feira, 28 de maio de 2012

É bonito

“Mas por que as pessoas gostam tanto de trabalhar na Sutaco, você acha”?

“Bom... Porque, pra começar, a matéria com a qual a gente lida no trabalho é muito legal, que é artesanato”.

“Muito legal é você quem acha”.

“Tá, eu sei que me trolaram no Tuíter[1], mas artesanato é legal. Se você não acha...”

“Não acho”.

“Então você só gosta de produtos industrializados”.

‘ “É”.

AZEDOU meu começo de noite. Eu feliz pra burro porque de manhã, em uma aula na FGV (a primeira de um curso que vamos fazer na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares), muita gente falou, na rodada de apresentações, sobre o como estava feliz por trabalhar na Sutaco, o quanto adora o que faz, o carinho que tem pela instituição. Entre muitos depoimentos calorosos do tipo “em x anos de casa, nunca aconteceu nada desse tipo”, um me derreteu: “Eu to pra me aposentar, mas agora eu não quero!”.

Aí ele vem e dá um toco logo no começo da minha resposta. )*&(*¨%#.

A voz já estava se elevando alguns decibéis e semitons quando ele tentou amenizar - “aquela dia que eu fui à lojinha você me mostrou algumas coisas que eu achei bonitas, mas...”

“Esquece”.

***
As pessoas que trabalham na Sutaco amam o que fazem porque gostam de artesanato e de gente.

Elas se comovem com a simplicidade de alguns deles. Muitos deles. Gente muito humilde, meu deus do céu, com um talento imenso. Homens idosos e calejados, capazes de entalhes intrincados, imagens delicadas, entrelaçamento, renda, moldagem. Mulheres de passo miúdo com força insuspeita. Quando digo “humildes” não estou escolhendo um eufemismo para me referir a “muito pobres” - eles são humildes MESMO. Modestíssimos, tímidos. Alguns abrem um sorriso orgulhoso quando elogiamos a beleza de suas peças, porque lá no íntimo - de onde as peças vieram - elas já sabiam. Outros parecem não acreditar.

Artesãos e artesãs que precisam se deslocar do rancho onde moram para o centro da cidadezinha esperar uma ligação da Sutaco ao lado do orelhão. Para o “agendamento” do encontro, o pessoal daqui manda recado pelo motorista do ônibus intermunicipal, que por sua vez avisa alguém da farmácia, do açougue, da padaria...

Artistas e artífices que estão cumprindo pena ou acabaram de sair para a rua. Que moram em quilombos, são assentados de reforma agrária. São indígenas aldeados ou não. Mulheres vítimas de violência, mulheres que acompanham filhos em internações que duram meses, mulheres em tratamento de saúde. Povo da rede de Economia Solidária da Saúde Mental. Ceramistas (hoje, 28, é dia deles!), bordadeiras, tecelãs, marceneiros, rendeiras. Pessoas com deficiência. Aposentados, desempregados, pessoas em situação de rua. Mulheres realocadas com suas famílias, mulheres de comunidades diversas.

“Os artesãos estão super felizes com as lojas novas”, dizem os funcionários da Sutaco, orgulhosos e satisfeitos. Funcionários da contabilidade, do financeiro, do cadastro. Da administração. Os do cadastro, comercialização e qualificação, então... O ouvidor...

Desde que eu cheguei à Sutaco, me surpreendi e gostei de ver como eles diziam “nossa artesã”, “artesão nosso”. Como quem tem uma responsabilidade por eles, não como proprietários. Dizem isso o tempo todo, com carinho.

Então eles são felizes por trabalhar na Sutaco porque prestam serviço para os artesãos. Não apenas porque dão suporte para que eles obtenham renda e, em muitos casos, sustento com o artesanato, mas porque adoram vê-los felizes. E querem que eles tenham orgulho do que fazem e que as pessoas reconheçam que coisa linda é o artesanato. Pelo que ele representa de original - não apenas no sentido de “único”, ou aquilo que não é cópia, mas por remeter à origem. Aos primeiros artefatos humanos; à escala da pessoa, não da indústria. À distância mais curta entre o barro e a jarra, a palmeira e o cesto de folha trançada. E pela beleza em si!

Não são poucos os que acham que artesanato é “tranqueira”, “bugiganga”. Então eu digo, parodiando o cartaz dos restaurantes, “conheça nossa lojinha”. Perceba por que os funcionários tem tanto gosto no que fazem. E não se faça de rogado, por favor - se gostar de alguma peça, pode comprar. O preço é justo, o artesão é recompensado, o desenvolvimento local é aquecido, a cultura rica e variada do estado de São Paulo é preservada e divulgada, o dinheiro público é bem empregado.

Se você ainda tem dúvidas, visite a nossa cozinha.

Parabéns, Sutaco, pelos 42 anos de vida (26/05/2012).

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[1] No Dia das Mães, escrevi “é impossível você não encontrar na Sutaco algo que sua mãe goste”. Algumas pessoas responderam: “Então a minha mãe não é normal, porque ela detesta artesanato”.

Um comentário:

  1. Boa tarde Soninha.
    Há dois anos atrás eu gravei com você uma participação para o documentário de 10 anos da banda Projetonave. Lembra, essa banda ganhou o Skol Rock em 1999 e você que apresentou o festival.

    Aqui está o link com o documentário http://www.youtube.com/watch?v=25eh-LpSp8w
    A parte em que você aparece está no time code in - 19´53

    Se puder dar um RT no twitter sobre o documentário eu agradeceria pois a divulgação é importante para o meu trabalho.

    Muito obrigado e sucesso na candidatura, estou contigo.

    Abraços
    @luiz_americo

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