quinta-feira, 31 de maio de 2012

Rebeldia? Liberdade? Hmm... Não

Eu sou antitabagista.

Não, não sou “contra” tabaco. Sou contra o “tabagismo”...
 
Como sou contra toda forma de dependência. Por que? Porque faz sofrer. Em alguns (muitos) casos, não só o dependente.
 
Que tem, sim, o direto de fazer consigo o que bem quiser, inclusive sofrer.

Mas eu também posso ser contra sofrimento, não posso?

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Tabagismo é uma forma cruel de dependência. É fatal, ops, quero dizer infalível. Inevitável. O uso frequente de tabaco causa dependência. Não existe “taxa de incidência” – 100% das pessoas que fumam são dependentes.
 
Tá, pensando melhor, não. Conheço pessoas que às vezes aceitam e acendem um cigarro depois de uma sobremesa, porque fumam “de vez em quando”. Por alguma razão (excepcional autocontrole, predisposição genética) não se tornaram fumantes.

Enfim, dependência não é um defeito moral, não é sinônimo de fraqueza, falta de caráter, falta de educação. É doença. E eu sou “contra” doença. Doença autoinfligida. Direito da pessoa, ok ok ok. Sou contra.

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Tabagismo é uma doença que foi dolosamente negada por bastante tempo pelos fabricantes de cigarro. “Que é isso, pesquisas provam que não faz mal”. E os fabricantes tiveram por muitíssimo tempo toda a “liberdade de expressão” [NOT] [Liberdade de uma empresa fazer publicidade não tem nada a ver com liberdade de expressão] de incentivar o uso de cigarro. Se não com palavras (e publicidade precisa delas?), com “climas”.

“Fumar é tão bom... O complemento ideal, ou indispensável, para sua aventura (velejar, correr, voar). Aquilo que deixa sua paixão e tesão muito maiores. Que te deixa mais charmoso, mais independente, mais descolado de regras e convenções. Que te faz parecer mais bem sucedido. Mais jovem (para os adultos), mas adulto (para os jovens). Seu companheiro para todas as horas... Para o cowboy solitário ou o filho pródigo”.

Tem música que até hoje me lembra propaganda de cigarro: “I hear you call" (Bliss) é uma. “O Portão” (Roberto Carlos) também. Eram dois comerciais lindos.

Em um debate (Barraco MTV) sobre cigarro e propaganda, o dono de uma agência de publicidade disse: “A gente não quer incentivar as pessoas a fumar. A gente quer dizer para os fumantes que a nossa marca é melhor que a do concorrente”.
 
Arrã.
 
E pra isso diz “que delícia que é fumaaar! Seja livre fumando!”.
 
EU acho fumar charmoso. Eu. Às vezes me imagino escrevendo de madrugada com um cigarro na mão. Nem por isso tenho vontade. Porque a primeira vez é horrível (senti o gosto e pensei – pra que insistir até gostar?) e porque a bagaça causa tal compulsão e dependência que a chance (99%?) é de que eu não consiga mais parar. Não sem sofrer.
 
Também acho revólveres charmosos às vezes. Posso me fantasiar de gangster numa festa. Nem por isso...

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Não é por ser tabagista que sou a favor da criminalização do fumo. Prefiro que a Souza Cruz venda cigarros tendo CNPJ, endereço conhecido, empregados registrados, pagando imposto, do que o PCC, CV, TC, ADA.  Sendo sujeita à fiscalização sem receber os agentes públicos com rajada de metralhadora.
 
Mas eu sou a favor do que todo mundo preconiza em relação a todas as outras coisas que não são proibidas – ou mesmo às que já são: educação. “Campanhas educativas”. E limites (porque o “vale tudo” é in-vi-á-vel na vida em sociedade).

Sou a favor da proibição de fumar em lugares públicos ou lugares fechados que reúnem muitas pessoas. Nossa, como a vida melhorou. A redação da ESPN era um lugar insuportável. Eu pensava duas vezes antes de ir ao Vegas ou ao D-Edge porque ia entrar em uma nuvem quase sólida de fumaça fedida. Eu não estava preocupada com os efeitos do fumo passivo a longo prazo sobre meu pulmão, ficava enjoada com aquele cheiro como ficaria com escapamento de caminhão.

Hoje em dia eu não vou porque tenho sono, ehehe.

E sou a favor de campanhas que tratem de dissociar cigarro de liberdade, charme, sedução, rebeldia.
Nos filmes e seriados não tem jeito; até armas eles deixam charmoso. Direção irresponsável , idem. (Aliás, PUBLICIDADE DE AUTOMÓVEIS faz isso também. Absurdo como incentivam o uso indevido e abusivo). Mas ali (cinema) é outro mundo, são outras regras (a menos que façam merchandising, porque aí já é demais).

Mas o governo e entidades tem, respectivamente, o dever e o direito de fazer campanha “desmascarando” o cigarro e incentivando as pessoas a parar de fumar.

Na minha casa eu fiz isso, ou melhor, nunca dei a menor chance para que cigarro fosse considerado charmoso ou signo de rebeldia. Nunca passou pela cabeça das minhas filhas fumar – e o pai das mais velhas é fumante, o maledeto. Parou e RECOMEÇOU. #jenio

E já que, segundo dizem, eu tenho poder de influenciar os jovens (até me mandaram embora da Cultura por causa disso, olha só que confusão), neste dia dedicado ao antitabagismo, eu digo: jovens influenciáveis do meu Brasil, começar a fumar é a maior c#gada. Seja charmoso sem cheiro horrível na roupa e bafo horrível na cara do moço ou da moça. 

2 comentários:

  1. Soninha, concordo que começar a fumar é a maior cagada. Eu não sou fumante. Em termos de opinião pessoal, concordo.

    Porém, a perseguição em torno da indústria tabagista é cruel. A indústria não coloca auma arma na cabeça das pessoas dizendo que devem fumar. Isso quem decide é o indivíduo. Eu decidi que nunca iria fumar. Aos 10 anos parei de beber refrigerante. Isso foi decisão minha.

    Não acredito que campanhas ajudem. Pior ainda se for usado dinheiro público. Todo mundo está careca de saber que cigarro faz mal. Tem que deixar as pessoas sentirem as consequências de seus atos. E mesmo assim, o indivíduo quer persistir. Quem somos nós para impedir que alguém fume até a morte? É opção dele.

    Agora em casa eu concordo. Com relação a suas filhas, está absolutamente certa. Educação e regras dentro da SUA casa.

    Enfim, a humanidade sempre fumou e sempre irá fumar. Acaba sendo uma espécie de seleção natural. Não se pode ir contra isso. Pode-se educar, mas não obrigar. E viva a liberdade individual, inclusive de errar.

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  2. Pois é querida, cada qual com suas razões. Entendo o que diz, também sou fumante. Tenho duas filhas moças que não são. Já viram o que é "dependência". Hoje em dia, o que me causa mais espanto é, justamente a molecada entrar nessa roubada.

    Mas a vida costuma se acertar mesmo que não acertemos nela!

    Beijos.

    Robson de Oliveira

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