quarta-feira, 26 de junho de 2013

+ Brasileiros e Brasileiras

Ontem ele veio aqui.

"Soninha, me disseram que você morava aqui, eu vim tentar pedir ajuda. Eu sou dependente e tô há um tempão tentando vaga em uma clínica em Campinas. Agora eu consegui e se não aparecer lá em no máximo dois dias, sou considerado desistente e perco a vaga. Eu não tenho um centavo e queria ver se você tem como me ajudar. Você imagina como é por aí, te tratam que nem cachorro".

"Dinheiro em casa eu nunca tenho... Mas olha, mesmo que eu tivesse, eu sei como é, depois bate uma vontade insuportável e você acaba indo comprar..."

"Olha, juro pra você que não. Tô há um mês sem usar, não vou querer agora. Tô tentando muito parar, fiz o maior esforço pra conseguir essa clínica".

"Hmm... Se você vier aqui amanhã entre 11 e meio-dia, eu te coloco dentro do ônibus".

"Beleza, obrigada. Mas eu vou continuar tentando ir hoje mesmo".

"Então passa aqui pra me avisar? Se não eu não vou saber se você não apareceu porque desencanou ou porque conseguiu".

"Eu NÃO VOU desencanar. Aviso se eu estiver por aqui, mas se não estiver..."

"Tem razão, não vai passar aqui só pra me avisar... Mas não é ruim chegar lá de noite? Esses lugares tem uma disciplina super rigorosa, de repente fecham a porta às dez..."

"Acho que não. Um lugar pra pessoas com problema de droga?"

"Sei lá, meio arrsicado. Você esperou tanto, tá tão decidido, se esperar mais doze horas não vai ser grande coisa".

"Beleza, mas eu vou tentar ir hoje".

***
Meio-dia: não apareceu.

***
19h20 - campainha.

"Vim avisar que eu consegui. Tô indo".

"Pô, já ia te xingar, 'isso é hora'?"

"Não, consegui, vim avisar"

"Que bom, eu ia ficar encanada".

"Eu sei".

***
Lá se foi. Pediu dinheiro pro cigarro, "porque lá pode". Pode ser - acompanhando meu amigo em abstinência de crack, soube que a psiquiatra falou "nem tenta largar o cigarro agora"... Realmente, ele virava um bicho só de começar a pensar em tentar.

Ficou com meu celular. (#Lyliannaomemata). Ele não sabe se pode ligar ou não; talvez de 15 em 15 dias no domingo, "não sei direito".

"Bom, se precisar de alguma coisa em São Paulo, mandar um recado pra alguém, ou só contar como tá indo...Falar com alguém..."

"O que é?"

"Claro. Pode ligar a cobrar, se precisar - a gente não vai ficar meia hora no telefone, né? E não passa o número pra mais ninguém, plis".

"Claro que não!"

"Eu nem sei seu nome!"

"Fábio". E saiu.

Três passos depois, olhou pra trás e deu uma risada. "Fabio Maluf rsrs. Quem sabe depois eu entro no seu partido e a gente faz alguma coisa rsrsrs".

"Primeiro se cuida. Boa sorte".

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