quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Porra, Bombig, tadinho do Haddad? - 2

A “HERANÇA MALDITA”

Além do desgaste político, a redução da passagem deixou para o prefeito de São Paulo uma bomba-relógio, programada para explodir nos próximos anos. Segundo cálculos da prefeitura, só em 2014 serão gastos R$ 2,1 bilhões com subsídios ao transporte público, meio bilhão a mais que o previsto por causa da redução. Fazendo uma projeção para todo o mandato, o valor pode passar de R$ 8 bilhões. Parece pouco, comparando com o orçamento de R$ 42 bilhões, o terceiro maior do país. Mas é muito quando confrontado com a realidade das finanças municipais. Segundo Haddad, é seu maior motivo de preocupação.


Mas o prefeito, enquanto candidato, nunca fez menção aos subsídios que mantém o transporte coletivo... Ao aumentar a tarifa abaixo da inflação, já estava comprometendo mais recursos do Tesouro Municipal. E ainda prometeu o Bilhete Único Mensal, cujo subsídio anual eu calculei em R$400 milhões a mais por ano quando ainda era candidata. Falei desse número com o arrogante Zaratini, um dos autores do “programa de governo” no candidato, e ele desdenhou. “Vamos equacionar”.

Sem falar que Haddad criticou a margem de lucro das empresas concessionárias no contrato vigente. Que foi assinado na gestão Marta!!! E ninguém o questionou quanto a isso!

Ele foi eleito em outubro do ano passado com 56% dos votos válidos contra 44% de seu adversário no segundo turno, o ex-prefeito e ex-governador José Serra, candidato do então prefeito Kassab. Haddad fez, portanto, uma campanha de oposição à gestão anterior. Nada mais óbvio então que, uma vez na prefeitura, ele ocupasse as tribunas, as câmeras e os microfones para denunciar a situação de calamidade que encontrou. Serra, ao assumir a prefeitura em 2005, fez exatamente isso com Marta Suplicy (PT). Mandou os credores da prefeitura organizar uma fila em frente ao Palácio Matarazzo e disse a eles que encontrara uma cidade “quebrada”. Haddad, no entanto, não pôde fazer isso. Kassab agora era aliado estratégico do PT para 2014. Dilma e Lula ordenaram que ele deveria ser poupado de ataques. Haddad nega que tenha sido orientado a poupar Kassab. “Quando assumi o Ministério da Educação, em 2005, fiz exatamente a mesma coisa, não critiquei ninguém. As dimensões da política avançam dessa forma, é pedagógico”, afirma. Sem fustigar abertamente o antecessor, restou a Haddad a opção de pedir socorro financeiro ao Planalto. Ele fez isso diretamente com Dilma, antes mesmo de assumir o cargo.

Ah, então Haddad fez uma campanha “de oposição à gestão anterior” só porque não tinha o apoio explícito de Kassab. Se tivesse, não teria achado tanto defeito??? O partido de Kassab JÁ ERA da base de apoio da Dilma. PT e PSD apoiavam-se reciprocamente em vários lugares. São Paulo foi uma exceção. Hoje Haddad conta feliz com o apoio do PSD na Câmara. E não, ele NÃO ENCONTROU UMA CALAMIDADE, é um ABSURDO dizer isso. A cidade estava quebrada em 2005 e não está quebrada agora.

A principal reivindicação de Haddad é a mudança no índice de correção da dívida com a União, federalizada em 2000, na gestão de Celso Pitta. Naquele ano, o valor da dívida estava em R$ 11,3 bilhões. Transcorridos 13 anos, o município ainda deve R$ 54 bilhões, apesar de já ter pagado R$ 19,5 bilhões. Segundo os assessores de Haddad, a dívida está indexada pelo índice IGP-DI mais juros anuais de 9%. A proposta paulistana é substituir esse índice pela Selic, a taxa básica de juros. Isso reduziria os juros, proporcionaria uma economia de R$ 1 bilhão por ano e aumentaria a capacidade do município de contrair novos empréstimos.

Na semana passada, Haddad se encontrou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo. Reforçou seus pedidos para que o governo atenda a suas reivindicações. Da relação com o Planalto, também depende o subsídio à tarifa do transporte. A proposta de Haddad é que o governo federal municipalize a Cide (imposto embutido no valor cobrado pela gasolina), para custear o setor nos municípios. Assim como no caso da dívida, há muita resistência à ideia. Sem isso, ficará muito difícil para Haddad implementar promessas de campanha, como o Bilhete Único Mensal do transporte, a redução do deficit de vagas nas creches municipais e o Arco do Futuro, projeto de urbanização apresentado na campanha com requintes de computação gráfica.

Ele não prometeu “reduzir o déficit”, prometeu ZERAR. Como se fosse fácil. Como se fosse só querer. Como se pudesse fazer mais de 200 creches, "172 em parceria com o governo federal", em uma gestão. Logo depois do início do governo, a Secretária Leda Paulani se queixou da dificuldade de encontrar terrenos em São Paulo. Não sabiam disso antes???

Outro revés financeiro da prefeitura paulistana veio nos Tribunais. Em março, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional parte da Emenda Constitucional 62, que institui o regime especial para pagamento dos precatórios. Segundo Haddad, isso pode representar gastos superiores a R$ 3 bilhões por ano aos cofres da prefeitura. “As finanças de São Paulo estão numa situação muito difícil. Sempre soube do tamanho do problema, agravado pela redução da tarifa do transporte público e pela decisão do Supremo”, afirma.

Pois é, nada indica que ele “sabia o tamanho do problema”... E o repórter endossa a visão de que ele não tinha como saber, coitado.

(Continua no post abaixo)

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