quarta-feira, 26 de março de 2014

É mentira. E quando é verdade, é pior.

Meu Deus do Céu, estarrecedora a reunião de declarações demagógicas e irresponsáveis do prefeito e do presidente da Câmara Municipal em resposta à manifestação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) hoje na cidade.

O prefeito diz que vai revogar o Decreto de Utilidade Pública que previa que a área ocupada "por 8 mil famílias" (não faço ideia se esse número é verdadeiro) seria área de preservação/parque municipal.

Abrir mão de uma área de preservação na Zona Sul já é uma coisa temerária ao extremo e nem preciso dizer por que.

Mas aí ele passa bola para a Câmara: "Os vereadores precisam aprovar a mudança daquela área para ZEIS, Zona Especial de Interesse Social, para revogar o Decreto". Mentira. Revogar o Decreto não depende de mudança na lei. Produzir moradia lá pode depender desse zoneamento

(O Decreto do Kassab hoje criticado e prestes a ser revogado pela prefeitura fazia o que tanto cobrávamos: dava efetividade a um zoneamento aprovado no Plano Diretor/ Lei de Uso do Solo aprovado no governo do PT. Mas eles dão a entender "esse Kassab não tinha sensibilidade com os movimentos de moradia, quis fazer um parque ali". Só não usam mais O NOME do Kassab porque ele é um grande aliado da Dilma. Mas vira o genérico "gestão anterior").

Ou seja: ele faz uma promessa muito discutível, ao mesmo tempo em que tira o corpo fora. Assim sai bem na foto com o movimento e na verdade não faz nada.

***
Minha empregada não mora longe da ocupação, que é bem recente. Tanto é que as imagens mostram barracos de madeirite, precaríssimos, construídos há pouco tempo. Os mais pobres, assim que podem, vão construindo barraco de tijolo, batem a laje etc. Se viram - brasileiro é mestre em sevirologia, no que isso tem de bom ou de ruim.

Ela ficou puta com essa história. "ONDE estavam essas 8 mil famílias? Debaixo da ponte é que não estavam. De onde saíram para entrar ali e exigir casa? Eu também quero casa".

Pois é, a ocupação vira um gigantesco "fura-fila" na política habitacional. Não tem casa pronta pra todo mundo, seja com Cohab, CDHU ou Minha Casa, Minha Vida (esse menos ainda, porque depende de parcerias, portanto interesses, do mercado). Tem gente esperando na fila HÁ DEZ ANOS. Tá lá no cadastro. Idoso, com muita dificuldade para sobreviver, morando em área de risco. Conheci muitos. Mas... Não tem vereador amigo para furar a fila, não tem dinheiro para comprar a preferência, não tá em ocupação dos Movimentos.

F*da.

"Tem gente lá", continua minha empregada, "que realmente eu não sei como sobrevive. Tem uma mulher da minha rua que cria quatro filhos sozinha e ela REALMENTE precisa. Mas Sonia, tem gente lá que tem carro, tem o dono de uma pizzaria lá do bairro. Ele tem uma pizzaria e tá lá pedindo casa".

Puta da vida.

***
Aí falam com o José Américo, vereador do PT que preside a Câmara Municipal de São Paulo. Que disse ter prometido ao MTST que "vai votar o Plano Diretor o mais rápido possível"; que em maio já terá sido aprovado.

MEU DEUS.

"O mais rápido possível". Tem PRESSA para aprovar um projeto HIPER complexo.

Na gestão anterior, o PT fez de TUDO para bloquear a votação. Entrou na Justiça. Disse que "como já querem mudar o Plano Diretor se o outro nem foi posto em prática"? Como se Plano Diretor não fosse algo para 10, 20 e 30 anos. Não é coisa que você "faz" e pronto. Precisa ser revisto sim, portanto modificado. Em função das recentes conclusões sobre Mudanças Climáticas e seu efeito na cidade, por exemplo.

Diziam também (tenho transcrição dos discursos) que "o Projeto do Executivo não é só uma revisão, ele muda SUBSTANCIALMENTE o projeto original e não podemos concordar com isso".

Adivinha O QUE o atual projeto faz com o original. Muda MUITO. Eram contra, agora são super a favor e comemoram as grandes mudanças que vão ocorrer, "mudando paradigmas".

Gente, rrrepito, o Plano Diretor em vigor foi enviado e aprovado no governo Marta. O relator foi o Nabil Bonduki. Agora falam em coisas lindas que virão com o novo Plano, sem dizer que se as anteriores eram feias, foram eles que fizeram.

***
Ah, e produzir milhares de moradias lá muito longe na periferia é O CONTRÁRIO do que São Paulo precisa e o prefeito, teoricamente, defendeu na campanha...

***
E tem a história dos "predios altos". Segundo o SPTV, só serão permitidos prédios altos onde houver corredor de ônibus.

Prédio alto, naturalmente, é o que mais interessa às construtoras. Ou "à especulação imobiliária", como o PT sempre diz (e "especulação" é bem diferente da produção imobiliária. Mesmo que esta possa ser bem ruim do meu ponto de vista, especulação é outra coisa).

E, vejam que coincidência, a prefeitura está dizendo que muitas ruas serão agora reservadas para novos corredores. Então vai poder prédio alto em todas elas, duh. Ainda que o corredor fique para as calendas. E se prédio alto tiver garagem com várias vagas por unidade, deusolivre, vai ter um impacto terrível em uma rua onde passa ônibus.

Aí o SP informa que "prédio alto só vai poder ser construído onde já tem predio alto". Ou seja, onde o impacto já f. as ruas, o trânsito, a drenagem etc, vai poder piorar. E o Nabil apareceu defendendo, "em vez de ter prédios altos espalhados pela cidade, vamos concentrá-los". Ai ai ai.

***
Ainda sobre ZEIS: dizer "nesta área só pode construir moradia popular ou habitação social" é medida importante para os terrenos bem localizados não ficarem só pra quem tem muita grana (depois de um bom tempo parados, "especulando", esperando valorizar...). Mas "só pode construir" não é garantia nenhuma de que seja construído... Ou alguém do setor privado se interessa, ou o poder público produz. Senão continuará sendo um terreno ou uma gleba.

***
A matéria sobre esse assunto no site da prefeitura ainda diz: "A Secretaria de Habitação comprometeu-se a analisar, no prazo de 15 dias, a viabilidade de construção de unidades habitacionais em alguns terrenos identificados pelo MTST em diversas regiões da cidade. "Eles conseguem identificar terrenos com maior agilidade, já que conhecem bem a região. onde podem ser construídas moradias. Temos um departamento de planejamento na secretaria que, juntamente com os movimentos, vai trabalhar na elaboração de projetos habitacionais para a comunidade", disse Floriano.

Meu Deus, meu Deus. A prefeitura precisa do MTST para "indicar terrenos", já que eles "conhecem melhor a região". E em quinze dias arrumarão agilidade sabe lá de onde para dar a resposta sobre a viabilidade. Quero ver.

Se dependesse do conhecimento que o Haddad tem da cidade, não sairia mesmo moradia em terreno nenhum. Mas a prefeitura tem de saber onde há areas e não depender do MTST para mostrar onde tem.

***
Acrescentado na quinta-feira as 7h50:

Por coincidência, hoje tem nova manifestação por moradia a caminho do Palácio dos Bandeirantes. Como o governador de São Paulo não vai subir em um carro de som para contar várias mentiras e satisfazer o Movimento com promessas irresponsáveis, fica 1x0 para o prefeito. Ele é o do diálogo; o governo do estado, o da insensibilidade com os movimentos sociais.

O marketing do PT vai comemorar mais uma vitória. Do marketing.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Talvez eu responda seu comentário com outro comentário... Melhor passar por aqui de vez em quando para ver se tem novidades para você.