Sem alça, com internet

Ontem, no Twitter, alguém escreveu: "Foi só a Soninha sair para não ter mais problema de lixo e mato no bairro".

Em vez de deixar quieto, respondi. "Claro. Eu não cortava o mato nem recolhia o lixo por falta de vontade. Agora está tudo limpo, e para sempre" (foi mais ou  menos isso).

Ele retrucou: "É tudo uma questão de gestão".

A besta aqui insistiu: "Não há gestão possível sem recursos. Sem dinheiro para pagar o jardineiro, o mato não é cortado. E o mato cresce muito mais na temporada de chuvas, o que torna tudo mais difícil".

Mas ele preferiu concluir: "Agora, com o Carlos Fernandes, as coisas voltam ao que eram antes".

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É realmente incrível que alguém possa pensar que uma coisa tão básica quanto cortar mato não seja feita por falta de vontade. De alguém que mora no bairro, vê os problemas diariamente e, como se não bastasse a raiva e frustração de testemunhá-los, é "famosa" e cobrada em rede nacional. Ninguém sabe o nome do prefeito de Guarulhos, mas da (ex)Subprefeita da Lapa? Todo mundo sabe.

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Contei a história para o Carlos Fernandes, que foi meu Coordenador de Administração e agora é o Subprefeito. Uma pessoa fantástica, que me devolveu a alegria de militar em um partido (ele tb dirige o PPS Municipal).

Ele contou uma história parecida coma do Twitter:

"Na semana em que você saiu, fui com o Joca [Coord. de Obras] a uma reunião com a CCR [concessionária da Anhanguera] e vi que tinham acabado de despejar um caminhão de entulho em uma praça da Jaguara. Ele programou uma equipe para ir lá tão rápido quanto possível [os caminhões estão todos os dias na rua recolhendo entulho; nunca estão parados na garagem, esperando uma ordem para trabalhar]. Logo em seguida, eu assumi a Subprefeitura. E a Rádio Sulamérica leu no ar uma mensagem: "Teve de trocar de Subprefeito para limparem o bairro".".

Não é incrível?

O Carlos deu risada com (mais uma) demonstração das suscetibilidades da raça humana. De como a gente vê o que acredita... O mundo é o que nossa mente projeta nele; não existe "realidade objetiva" (os budistas são radicais nesse ponto :o)).

E alguém que esteja ouvindo a rádio pela internet na Finlândia formará a seguinte conclusão: "A Soninha foi mal na Subprefeitura da Lapa. Nem o lixo ela recolheu". 

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Como eu disse em uma entrevista à Band Campinas meses atrás, ser Subprefeita é fantástico do ponto de vista da "experiência administrativa". Ter de lidar com as pressões, os defeitos da máquina, as possibilidades e as exigências. Mas do ponto de vista do potencial eleitoral, é a maior roubada. Todos os ônus do mundo; pouquíssimos bônus. 

Não me arrependo não, ao contrário. Na mundo governamental, deve haver poucos lugares tão massacrantes como esse, mas hoje eu sei muito mais do que um ano e meio atrás. Confirmei coisas que imaginava quando era vereadora e quando fizemos programa de governo para a prefeitura e aprendi um milhão de outras. Saí de lá com uma nova lista "absurdos da administração pública" (um Google Docs) :o)

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Mas se o Carlos Fernandes fosse um mau caráter qualquer, diria "É, a coisa aqui estava feia, mas nós chegamos com uma nova postura, uma nova filosofia, e agora tudo funcionará melhor".